Amazônia – Azulejos – Azeitonas

A Amazônia é considerada a maior floresta tropical e maior bioma do Brasil. Possui uma fauna extremamente rica ( 30 milhões de espécies ) e cerca  de 14.003 espécies de plantas com grande potencial medicinal e econômico. Nela nasce o Rio Amazonas, rio barrento de mil afluentes, contudo, navegável, que em suas profundezas alberga o 85% dos peixes de toda a América do Sul. Podemos observar ao centro do vitral a representação da Amazônia, com Tucanos, macacos, um rio e flores diversas.

Coroando a Amazónia observam-se azulejos de diferentes desenhos, que pelo seu peso histórico são para Portugal mais do que um elemento decorativo. Os azulejos ou «pequenas pedras polidas» ( árabe azzelij ) de origem mourisca tornaram-se tradição portuguesa em 1498. Com o passar do tempo a sua arte, inicialmente decorativa ressignificou-se assumindo o caráter de suporte para a expressão artística nacional. Encontrado em Igrejas, espaços públicos, quintas, a contar cenas mitológicas, episódios históricos e por vezes histórias familiares e de ascensão social o azulejo é uma das expressões mais fortes da cultura em Portugal e uma das contribuições mais originais do génio dos portugueses para a Cultura Universal.

Na parte inferior do vitral encontramos galhos de azeitonas, frutos da oliveira, árvore de grande importância na cultura portuguesa. As azeitonas têm contribuído também ao bem-estar dos portugueses. Usam-se como aperitivo, ingrediente para pratos típicos e para produzir azeites de qualidade. Além dos seus evidentes benefícios à saúde, a azeitona e os produtos que dela derivam são igualmente uma fonte de riqueza do país.

Bossa Nova – Baiana – Brigadeiros – Bonde

No final da década de ‘50, surgiu no Brasil um novo estilo musical chamado Bossa Nova, que rapidamente ultrapassou fronteiras tendo muito sucesso em vários países. Este gênero trouxe consigo cantoras e cantores que se tornaram clássicos na cultura brasileira e que viraram ícone do bossa nova. Do lado esquerdo do vitral, está Vinícius de Moraes e na frente Tom Jobim, dois grandes músicos, criadores do tema “A Garota de Ipanema”. 

Do lado esquerdo, em baixo, temos outra figura icónica do Brasil, trata-se da “Baiana”. Mulheres de ascendência africana, que se dedicam à preparação e venda de iguarias tradicionais no estado de Salvador. Uma figura histórica, sinal de identidade e força, já que conseguiram a regularização da sua profissão, o que as torna um símbolo de empoderamento das mulheres.

Tão saborosos como as iguarias, são também os Brigadeiros do lado direito, abaixo no vitral. Esses docinhos brasileiros feitos principalmente de chocolate e manteiga que não podem faltar nas festas de aniversário. O nome deve-se a uma mulher que o patenteou por causa do seu candidato favorito na eleição presidencial de 1964, Brigadeiro Eduardo Gomes, com o intuito de arrecadar fundos para a campanha.

Já no centro, encontramos o Bonde, o sistema de transporte que foi introduzido no Brasil na segunda metade do século XIX, e que representou um grande acontecimento, já que se tornou a maneira mais fácil para acelerar a circulação de mercadorias e pessoas nas cidades brasileiras, como o Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre.

Caipirinha – Calçada portuguesa – Capoeira – Carnaval – Clarice Lispector –

Corcovado – Camões – Cristo Redentor

A letra C deste vitral faz-nos pensar em praia, festa, arte pública, dança e literatura. Daí que iniciemos com celebração…   Apesar de se realizarem carnavais em muitas partes do mundo, quando se fala de Carnaval, é impossível não pensar no Brasil. O Carnaval chegou ao Brasil em meados do século XVII, sob influência das festas carnavalescas que já era tradicional acontecerem na Europa, com desfiles urbanos de pessoas mascaradas ou com disfarces (fantasias). A partir desse período, os primeiros blocos carnavalescos e os famosos cortejos de automóveis (corsos) foram criados. Assim também, as pessoas decoravam os seus carros, disfarçavam-se e desfilavam em grupos pelas ruas das cidades, dando origem aos carros alegóricos. No decorrer do século XX, o carnaval tornou-se mais popular e cresceu consideravelmente devido às “marchinhas carnavalescas”, isto é, devido às músicas e danças que se interpretavam para acompanhar os desfiles e para fazer com que o carnaval fosse mais animado, incorporando o samba como música/dança obrigatória.  Eventualmente, surgiram as primeiras escolas de samba, no Rio de Janeiro e noutros locais do país, as quais têm -até aos nossos dias- o propósito de organizarem/treinarem as pessoas dos bairros das cidades participam nos corsos do carnaval. Foi desta maneira que os campeonatos, para escolher qual era a escola do carnaval mais bonita e a mais animada, emergiram.

 

Hoje em dia, o Carnaval do Brasil é a maior festa popular do país, a qual se desenvolve nas principais cidades e vilas do país. A festa acontece durante os quatro dias que precedem a quarta-feira de cinzas (início da Quaresma). É comumente referida pelos brasileiros como o «Maior Espetáculo na Terra».

Depois do dançar e cantar no carnaval… ou durante um dia cheio de sol, vem mesmo a calhar para refrescar o corpo: a Caipirinha. A caipirinha (parte inferior, no centro) é a bebida alcoólica brasileira mais conhecida no mundo e um reflexo da forte cultura canavieira do sul do país. No que diz a respeito da sua origem há várias versões, sendo o Estado de São Paulo o comum denominador. Pensa-se que a caipirinha foi criada por fazendeiros latifundiários do interior do Estado, a finais do século XIX, como um bom substituto local do uísque ou do vinho importados. Outros afirmam que foi criada a partir de uma receita com limão, mel e alho, que servia para tratar a gripe espanhola. Como era comum adicionar um pouco de álcool nas misturas medicinais caseiras, a cachaça (aguardente de cana) entrou em cena, mudando os ingredientes e surgindo a caipirinha. Relativamente ao nome, este pode derivar de “caipira”, termo que se utiliza até à data para denominar as pessoas do interior do país, de origem camponesa e humilde, já que, com a passagem do tempo, esta bebida passou a ser do gosto e domínio populares.

 

No fundo da imagem da caipirinha, podem apreciar-se os traços duma Calçada Portuguesa. A calçada portuguesa faz referência ao revestimento de piso utilizado especialmente na pavimentação de passeios, de espaços públicos e espaços privados que é muito utilizado nos países lusófonos. Surge por iniciativa e idealização de Eusébio Furtado, um engenheiro do exército português que desempenhou o cargo de governador do Castelo de São Jorge, em Lisboa, Portugal. Em 1842, Eusébio decidiu mandar calcetar a parada de um quartel do Castelo, encomendando o trabalho a prisioneiros. O resultado foi espetacular: o ziguezague do empedrado que fora idealizado por Eusébio logo seduziu o olhar dos transeuntes e estimulou a imaginação de mestres calceteiros que rapidamente adotaram a técnica, espalhando-a para outros destinos. A calçada portuguesa é o resultado, ainda hoje, de um trabalho meticuloso: o artífice deve partir pequenas pedras de basalto ou calcário com martelinhos, para as dispor no chão já preparado de modo a formar desenhos no pavimento. As figurações variam: caravelas quinhentistas, peixes, rostos e elaboradas formações geométricas, conformando um tapete de pedra que decora maravilhosamente as ruas.

 

Como já foi referido, a calçada portuguesa também se pode encontrar nas vilas e cidades coloniais dos países lusófonos, o Rio de Janeiro entre elas. Assim, voltamos a referir esta bela esta bela brasileira, em que podemos observar O Corcovado (no centro), que é um dos morros (montes pouco elevados) do Rio de Janeiro, de 710 metros por cima do nível do mar. Recebeu, o nome de Corcovado em virtude da sua distintiva forma curva, que faz lembrar uma «corcunda» ou corcova. Este nome se popularizou desde o século XVII, mas inicialmente já fora batizado com o nome de “Pináculo da Tentação” pelo navegador italiano, Américo Vespúcio, em alusão à passagem bíblica da Tentação Final de Cristo, onde o diabo leva Jesus para um lugar «muito alto», de onde «todos os reinos do mundo» podiam ser vistos para o tentar com riquezas. O Corcovado é célebre no Brasil e no mundo inteiro pela sua estátua do Cristo Redentor (parte superior, no centro) de 38 metros de altura, a maior e mais famosa escultura Art Déco do mundo. A escultura foi concebida em 1921 pelo engenheiro Heitor da Silva Costa e acabou por se materializar em 1931, ano da sua inauguração. O belo Corcovado e Cristo Redentor, juntamente com o Pão de Açúcar (outro dos emblemáticos morros da cidade, representado também na imagem do centro) são paragens obrigatórias para quem visita o Rio de Janeiro.

 

Continuando a nossa viagem pelo vitral, podemos advertir a imagem dum capoeirista, ou jogador/praticante de capoeira. A Capoeira (canto esquerdo inferior) é uma expressão cultural que mistura arte marcial, desporto, cultura popular, dança e música. Amplamente desenvolvida no Brasil por descendentes de escravos africanos, caracteriza-se por golpes e movimentos ágeis e complexos, nomeadamente: chutos e rasteiras, cabeçadas, joelhadas, cotoveladas, acrobacias em solo ou aéreas. O traço distintivo desta arte marcial é a sua musicalidade, o que obriga os seus praticantes a aprender a tocar os instrumentos típicos e a cantar, além de lutar. Um capoeirista que ignora a musicalidade é considerado incompleto. É a música que decide o ritmo e o estilo do jogo, que é praticado no decorrer da “Roda de Capoeira”, um círculo de pessoas onde a capoeira é jogada. Assim, os capoeiristas se alinham na roda de capoeira batendo palmas ao ritmo do berimbau, enquanto cantam para os praticantes jogarem. O berimbau é um instrumento musical de corda feito de madeira, bambu, arame e uma cabaça. Considera-se que a capoeira surgiu a finais do século XVI no Quilombo dos Palmares (situado na então Capitania de Pernambuco), recriada por escravos africanos de origem banto. A capoeira recebeu, em 2014, o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

 

Finalizamos a nossa exploração com duas personagens destacadas da literatura em língua portuguesa:

Luís Vaz de Camões (canto superior esquerdo), poeta e erudito português do século XVI que ficou como o fundador do português culto. Escreveu peças de teatro, poesia sobre as injustiças do mundo e as contradições da natureza humana, poemas de amor incomparáveis. A epopeia “Os Lusíadas”, considerada por muitos a sua maior obra, conta a História de Portugal em verso. O tema central é a viagem em que Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia. “Os Lusíadas” demonstrou o cuidado duma língua nacional como expressão da personalidade coletiva dum povo. É através da obra camoniana que se consolida o português como língua literária que chegará, quase intacta, até aos nossos dias. Sobre a sua vida, sabe-se que conviveu com a nobreza, passou uma temporada em Coimbra e outra em Lisboa e que foi preso por se ter envolvido em brigas de rua. Terá perdido o olho direito em Ceuta, a lutar contra os mouros. Viajou pelo Oriente, desempenhando cargos públicos na Índia, no golfo Pérsico e em Macau. Levava com ele o manuscrito de Os Lusíadas quando naufragou nos mares da Cochinchina (no Oceano Pacífico), conseguindo salvar-se a si próprio e ao seu precioso manuscrito. Apesar do seu enorme talento e da obra assombrosa e variada que deixou, Luís de Camões morreu em 1580, pobre e sozinho.

 

E de Portugal, partimos novamente para o Brasil, com a imagem de Clarice Lispector (canto superior direito), quem foi uma das mais destacadas escritoras da chamada «Geração de 45» do modernismo brasileiro. Nasceu a 10 de dezembro de 1920, na cidade ucraniana de Tchetchelnik, no seio duma família judia. Devido à perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa (1918-1920), os pais decidem ir para o Brasil em 1921, ficando definitivamente nesse país. Já desde uma tenra idade, Clarice demonstra interesse por línguas e pela arte de escrever, mas é só a partir dos 19 anos –aquando do seu ingresso na Escola de Direito da Universidade do Brasil– que começa a dedicar-se totalmente à sua grande paixão: a literatura. Desenvolveu uma proficiente carreira como escritora e jornalista, escrevendo poesia, romance e conto com um estilo inovador, intimista, psicológico, social e com uma linguagem altamente poética, rompendo com os modelos narrativos tradicionais. Seu primeiro livro, “Perto do Coração Selvagem” recebeu o Prêmio Graça Aranha. Clarice Lispector foi naturalizada brasileira e se declarava pernambucana. Faleceu no Rio de Janeiro, em 9 de dezembro de 1977, um dia antes do seu aniversário.

Dom Pedro I do Brasil – Dom João VI de Portugal – Dom João II de Portugal – Douro

As personagens que encontramos neste vitral pertencem à realeza, do lado esquerdo estão os dois monarcas do império brasileiro, Dom Pedro I do Brasil, quem proclamou a independência daquele país em 1822 e ocupou brevemente o trono português. Tinha o cognome de Rei Soldado. Junto com ele, também está Dom Pedro II do Brasil, o Magnânimo, quem foi retirado do trono depois do golpe de estado que terminou com a monarquia no Brasil.

Continuando com a gala da realeza, do lado direito, encontramos a Dom João VI de Portugal, O Clemente , quem foi rei do Reino Unido de PortugaL, Brasil e  Algarves. Junto com ele, está Dom João II de Portugal, de cognome O Príncipe Perfeito, que foi o grande promotor das explorações marítimas.

E por último, acompanhando estas personalidades reais, temos a paisagem do rio Douro, que nasce na província espanhola de Sória e atravessa o norte de Portugal até a sua foz entre as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia. Considerado o terceiro rio mais longo da península ibérica.

Especiarias – Elétrico – Eça de Queirós

Os portugueses empreenderam as navegações no século XV, e estenderam-se por todo o século XVI.  Chegaram a Oriente buscando uma rota comercial. O primeiro objetivo desta viagem era a busca por especiarias, não só como tempero para a comida, mas para conservá-la ou inclusivamente para mascarar o cheiro demasiado forte de alguns alimentos ou daqueles que estavam a ficar podres. Nessa aventura redesenharam o mapa do mundo conhecido nessa altura. Pode-se observar no centro do vitral um navio português e aos costados do mesmo especiarias como cravo, canela e louro, fruto das navegações.

Em cima do navio, o elétrico, um transporte tradicional de grandes cidades como Lisboa ou Porto, cuja história remonta a 1872. Movimentado sobre carris, transporta principalmente passageiros, é um meio de deslocação rápido e pode percorrer ruas estreitas, íngremes e sinuosas. A Carris, é atualmente a principal rede de elétricos em Portugal.

No espaço central inferior, encontra-se o busto do escritor Eça de Queirós, máximo representante da novela realista e naturalista portuguesa, nascido em Póvoa de Varzim em 1845. Entre suas obras destacam-se O Crime do Padre Amaro (1875), O primo Basílio (1878) e Os Maias (1888). Eça de Queirós concebia a literatura como um instrumento para arrancar Portugal do seu atraso endémico.

Futebol – Festas Juninas – Fátima – Fado

O grande fenómeno mundial que representa o “futebol” é também para o Brasil e Portugal um motivo de muito orgulho nacional e imagem desses dois países no mundo. Do lado esquerdo, da cima para baixo, representando a equipa brasileira, temos Pelé, um dos maiores atletas do mundo, ganhador de múltiplos prêmios. Em seguida, encontramos Ronaldinho, e da geração atual, temos Neymar. É importante ressaltar que, ao fundo do lado esquerdo, podemos ver os enfeites característicos das “festas juninas” no Brasil, papeizinhos de cores que acompanham o evento dedicado a Santo Antônio, São Pedro e São João. Vários são os elementos que acompanham as festas, os principais são: as comidas, as danças típicas, os balões, a fogueira, as brincadeiras e as roupas.

Ao lado direito, encontram-se as figuras mais famosas do futebol português. De cima para abaixo temos  Eusébio, depois Figo e o mais atual, Cristiano Ronaldo.

Da mesma maneira que acontece com as festas juninas, temos também em Portugal as Festas dos Santos Populares, e é no mês de junho que as celebrações e arraiais acontecem um pouco por todo o país nas noites de Santo António, São João e São Pedro. No vitral, também do lado direito, temos os típicos enfeites dessas festas, que podem ser vistos nas ruas dos bairros.

Ao centro do vitral, pode-se ver uma figura religiosa,  relevante tanto para o Brasil como para Portugal. A virgem de Fátima, uma das representações da Virgem Maria, que teve o seu surgimento em Cova da Iria, em Fátima, Portugal. Uma das figuras mais socorridas para os praticantes catolicismo.

No vitral, a Virgem de Fátima fica acompanhada por duas guitarras portuguesas, representantes do Fado, a música tradicional portuguesa, caracterizada pelo canto e em companhia da guitarra espanhola e a portuguesa. O fado canta sobre as experiências da vida, sobre a saudade e também sobre a vida nos bairros humildes.

Galo de Barcelos – Guitarra Portuguesa

A imagem central deste vitral representa a justiça. O famoso Galo de Barcelos, associado à identidade nacional portuguesa, segundo conta a lenda, tornou-se símbolo da justiça em Portugal, quando um peregrino galego suspeito de um crime em Burgo, foi prendido e condenado a morrer enforcado. O galego antes pediu que o levassem perante o juíz que o havia condenado, mesmo que nesse momento jantava com os amigos. Apontando para o galo assado que se encontrava na mesa o galego exclamou: “É tão certo eu estar inocente como certo é esse galo cantar quando me enforcarem”, todos os presentes riram, mas ninguém tocou o galo. Quando o peregrino estava a ser enforcado, aconteceu o impossível: o galo ergueu-se na mesa e cantou! O juiz surpreso, correu à forca e imediatamente mandou soltar o homem e deixou-o em liberdade.

Acompanhando o Galo de Barcelos nos laterais do vitral, está a Guitarra Portuguesa, ou “guitarra de fado”  cuja origem provavelmente está na evolução da cítara durante o século XVIII. Guitarra de sonoridade profunda e melancólica e mecanismo invulgar (12 cordas num leque de ferro) tocada com unhas especiais colocadas nos dedos índice e polegar. Pouco a pouco, e graças à declaração do fado como Património Imaterial da Humanidade em 2011, foi transcendendo os limites da música popular portuguesa. Quem já teve a sorte de ouvi-la, concorda com os que dizem que a guitarra portuguesa não somente “ressoa” mas também tem a capacidade de “chorar”.

Henrique de Avis – Havaianas

A personagem central deste vitral é o Infante Dom Henrique de Avis, um dos principais protagonistas da era da expansão marítima portuguesa, popularmente conhecido como Infante de Sagres ou O Navegador. Em 1414, participou na campanha para a conquista de Ceuta, na costa-norte africana, perto do estreito de Gibraltar. A cidade foi conquistada, assegurando ao Reino de Portugal o controle das rotas marítimas entre o Atlântico e o Levante. A sua participação valeu-lhe o título de cavaleiro, de Senhor da Covilhã e duque de Viseu.

Do lado superior direito do vitral, encontramos um objeto muito particular que faz parte da vida quotidiana da população brasileira: as famosas Havaianas. Às vezes também chamadas de “chinelos”, as Havaianas são famosas pelo seu conforto e comodidade para caminhar sob as altas temperaturas predominantes em boa parte do Brasil. Seja na universidade, seja de ônibus, simplesmente na rua, ou em qualquer lugar que não precise de muita elegância, as havaianas formam parte da vestimenta dos brasileiros e brasileiras, tornando-se até um famoso souvenir de quem visita o país e experimenta seu calor.

Ianomâmis – Iguaçu

Os ianomâmis, etnia indígena da amazônia, permaneceram relativamente isolados em territórios de refúgio até meio do século XX. Vivem em aldeias pequenas, de entre 40 ou 50 pessoas, construídas em círculo completamente abertas. Praticam o canibalismo endogámico como ritual sagrado: Comem as cinzas dos ossos do parente falecido. Acham que neles reside a energia vital da pessoa e ingerindo as cinzas, reintegram o falecido ao grupo familiar.

Eles cultivam banana, inhame, batata e comem rãs. Caçam todo o ano e usam arco e flechas impregnadas de veneno. São ao mesmo tempo pacificadores e valentes guerreiros defensores da natureza.

Além das maravilhas do mundo moderno, existem as maravilhas naturais, como as cachoeiras de foz de Iguaçu, localizadas no ponto que divide a fronteira entre o Brasil, Argentina e o Paraguai.

No Brasil, as cachoeiras fazem parte do estado de Paraná e são a principal fonte de ingressos econômicos e energéticos. A cidade que alberga estas cachoeiras é multicultural e alberga italianos, alemães, hispanicos, chineses, ucranianos, japoneses, a segunda maior comunidade libanesa e a maior comunidade islâmica do Brasil.

Jorge Amado – José Saramago – José de Alencar

A literatura lusófona é uma das mais valiosas e ricas contribuições que os países têm dado ao mundo. Grandes figuras da arte escrita têm na sua origem a língua portuguesa, o que nos revela uma língua culta, que integra a riqueza e diversidade dos países em que é falada..

O seguinte vitral está dedicado a três dos maiores escritores lusófonos.

Jorge Amado:  jornalista e um dos maiores representantes da literatura brasileira modernista, com uma obra marcada pelo regionalismo e pela denúncia social. Sua obra é composta por 49 livros, entre os mais famosos:  Dona Flor e Seus Dois Maridos, Tenda dos Milagres, Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Tereza Batista Cansada de Guerra e Capitães da Areia.

Jorge Amado foi uma figura representativa na segunda metade do século XX na sociedade brasileira. Neste vitral, encontra-se no extremo esquerdo, acompanhado por seu personagem Tieta de Agreste, uma jovem muito rebelde que foi expulsa do seu povoado Santana do Agreste aos 18 anos e que depois de 30 anos volta para se vingar de todos na cidade.

José Saramago: foi um importante escritor português. Destacou-se como romancista, teatrólogo, poeta e contista. Vencedor de vários prémios, entre eles o prémio Camões, o mais importante em língua portuguesa, foi também o primeiro e único autor em língua portuguesa a receber o Prémio Nobel, em 1998.

José Saramago estreou com 25 anos mas só alcançou a fama perto dos 60, com o romance Levantado do Chão (1980). Memorial do Convento (1982) foi traduzida rapidamente a várias línguas, tornando-se um escritor internacionalmente reconhecido com O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991)  e o Ensaio sobre a Cegueira (1995), adaptado ao cinema pelo realizador brasileiro Fernando Meirelles, com Julianne Moore e Mark Ruffalo em 1998.

José de Alencar: no extremo direito neste vitral. Foi um dos maiores representantes da corrente literária indianista e o principal romancista brasileiro do período romântico. Entre seus romances destacam-se Iracema e Senhora. José de Alencar escreveu uma variedade de obras em diferentes gêneros. Deixou romances indianistas, históricos, regionalistas e urbanos.

Lusitanos – Lenço dos Namorados

O vitral L, mostra-nos ao centro a representação de Viriato, líder dos  “lusitanos”; os lusitanos eram um povo pré-ibérico que resistiu muito tempo à invasão do Império Romano. Viviam na zona montanhosa da Serra da Estrela, hoje no centro de Portugal, que quando foi conquistada pelos romanos se chamou “Lusitânia”. Por isso aos portugueses se lhes chama também “lusitanos” ou “lusos”. E é daí também que vem o termo “Lusofonia”.

Considerados pela história como “habilidosos”, suas armas eram a adaga e a espada, o dardo ou lança em ferro ou bronze.

Um “lenço dos namorados” enquadra a imagem do lusitano. O “lenço dos namorados” é um lenço de pano com mensagens de amor e figuras simbólicas (pássaros, envelopes de carta, silvas, corações e chaves, entre outros..). Nascido das tradições familiares ao Norte de Portugal, em meados do século XIX, quando as jovens casamenteiras os bordavam em casa, com a esperança de poder entregá-lo em segredo ao amado. Isto acontecia habitualmente nas romarias (festas populares). Se o rapaz a quem lhe fosse entregue o lenço sentisse também amor pela rapariga,  amarrava o lenço ao pescoço indicando assim o início do relacionamento amoroso. Se ele nao gostasse então devolveria o mesmo às mãos da sua dona.

MPB – Manuelino – Machado de Assis

MPB ou Música Popular Brasileira, surgiu no Brasil em meados de 1960, com a segunda geração da bossa nova, mas com forte influência do folclore brasileiro. Foi bandeira cultural de luta contra o regime militar em 1964. A MPB, como estilo, é aplicada a tipos de música não elétricas diferenciadas da bossa nova, do samba, moda ou marchinha, mas que aproveitavam ao mesmo tempo, a suavidade da bossa, a música tradicional e a influência de canções norte-americanas conhecidas através do cinema. Os artistas e o público da MPB estavam ligados aos estudantes e intelectuais, fazendo com que a MPB fosse conhecida como “a música da universidade”. A MPB toma da bossa um importante elemento: a crítica da injustiça social e da repressão governamental. Mais tarde, a MPB passou a abranger outras misturas de ritmos como rock, soul, funk, samba, pop e música latina. Nos quatro cantos do vitral, os seus grandes representantes: Chico Buarque (superior esquerdo), Caetano Veloso (superior direito), Elis Regina (inferior esquerdo), e Gal Costa (inferior direito).

Ao centro na parte superior, encontramos arcos e colunas a representar o estilo Manuelino, estilo arquitetónico fruto do encontro entre culturas derivada expansão marítima portuguesas. O Manuelino é uma interpretação arquitetônica e ornamental muito específica do gótico. Identificam-se nele uma combinação de símbolos como esfera armilar, cruz de Cristo, galhos, cordas e estranhas formas marinhas esculpidos em pedra. Este estilo surgiu durante o reinado de Dom Manuel I (1495 – 1521) mas só recebeu seu nome no século XIX. O Mosteiro de Jesus em Setúbal é dos primeiros exemplos deste e a Torre de Belém, junto com o Mosteiro dos Jerónimos dois dos seus emblemas, mas o Mosteiro de Batalha e o Convento de Cristo em Tomar assim como o Palácio da Pena, em Sintra, desvelam todos os segredos deste maravilhoso estilo.

Na parte central inferior, encontra-se o busto do escritor brasileiro, Joaquim Maria Machado de Assis, nascido no Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Desde cedo trabalhou a vender doces e foi autodidata no seu estudo aprendendo francês e o alemão. Posteriormente exerceu diversos trabalhos: em jornais e na imprensa oficial do Rio de Janeiro, primeiro oficial no Ministério de Agricultura e diretor de Transportes e Obras Públicas. Aos quinze anos publicou seu primeiro poema, e em 1864 seu primeiro livro de poesia. Mas em 1881, com o romance  Memórias Póstumas de Brás Cubas, marcou o início do realismo no Brasil. As caraterísticas principais de suas obras são a introspecção, humor e pessimismo relativamente à essência do homem e sua relação com o mundo. Fundou a academia Brasileira das Letras em 1897.

Nordeste – Nossa Senhora Aparecida

A região Nordeste possui a maior quantidade de estados em comparação às outras. Uma das figuras mais representativas do Nordeste é o lampião ou Rei do Cangaço, representado no vitral do lado direito; porém, com seu nome registrado como Virgulino Ferreira da Silva, é entendido como um malfeitor por alguns, mas é visto por muitos outros como um justiceiro dos sertões contra os latifundiários. Lampião se tornou uma lenda no imaginário social dos sertanejos do Nordeste, como o homem mais temido de todos os tempos. Ele foi casado com Maria Bonita, a qual recebeu uma figuração de uma «mulher macho», por seus trejeitos masculinos e adequação às roupas e tudo o que esteve no entorno de Lampião. Até hoje, a memória do Rei do Cangaço é revivida no Nordeste com suas vestimentas e adereços, principalmente, nas épocas festivas de São João, que é uma festa tipicamente nordestina. Para quem quiser conhecer o Museu do Cangaço, que conta a história de Lampião, fica localizado na cidade de Serra Talhada, no estado de Pernambuco (Nordeste).

Por outro lado, temos no centro do vitral a Nossa Senhora Aparecida, que é uma santa muito popular entre os brasileiros. A Catedral Basílica Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida é um templo  católico que se localiza no estado de São Paulo, na região sudeste do Brasil, sendo o maior templo religioso do Brasil,  e o segundo maior do mundo, que atrai fiéis católicos e outros visitantes deslumbrados  pela imponente arquitectura.

Orixás

A cultura africana está ligada à lusofonia de maneira muito íntima, às vezes apenas como uma influência cultural ou, como no caso do Brasil, sendo protagonista de uma das raízes culturais. Os afro-brasileiros aportaram muito para o desenvolvimento económico do Brasil. Os africanos, quando foram levados para o Brasil como escravos, transportaram consigo a sua religião, que foi proibida pelos colonizadores portugueses, considerada como uma crença diabólica, pela sua prática e filosofia tão afastada da visão católica.

No Brasil foi chamado Candomblé, uma vez que sincretizado com o catolicismo dos portugueses, como maneira de sobrevivência da identidade africana. O Candomblé conserva as divindades do panteão africano de deuses e deusas que representam a natureza, ligadas nessa altura com os santos católicos, esse grupo de divindades são chamados “orixás”.

O candomblé sobrevive como uma religião popular, que se transmite de pessoa a pessoa, os seus rituais são realizados nas casas ou terreiros dos adeptos e são dirigidos por um pai-de-santo ou mãe-de-santo. Segundo o candomblé, cada pessoa tem um orixá que funcionaria como um padrão de comportamento, quer dizer que cada pessoa reproduz a personalidade do orixá ao qual está ligado e é reconhecido na leitura dos búzios dentro do ritual.

Ainda hoje, o candomblé é um culto muito importante de identidade afro-brasileira que sobrevive apesar das novas correntes religiosas conservadoras e fundamentalistas que julgam e perseguem os adeptos do candomblé. 

Neste vitral temos alguns dos principais orixás do candomblé:

Oxum: localizada abaixo à direita do vitral.  Divindade dos rios, foi sincretizada com Nossa Senhora de Cadeias. Vaidosa, anda sempre com um espelho para se olhar. Os filhos de Oxum apreciam joias e roupas caras, são elegantes e graciosos. Um filho ou filha de oxum é diplomático, ambicioso, determinado e narcisista.

Ogum: abaixo no centro do vitral. É guerreiro e também a divindade do ferro. Sincretizado com Santo Antônio de Pádua, na Bahia, e com São Jorge no Rio de Janeiro. Bravo, impaciente, impulsivo e muito persistente. Os filhos de Ogum são sinceros, obstinados, criativos e curiosos.  Um filho de Ogum é tranquilo e ao mesmo tempo pode ser raivoso.

Iansã: localizada à esquerda abaixo no vitral. Orixá dos ventos. Foi sincretizado com Santa Bárbara. Os filhos de Iansã são autoritários, ciumentos, atirados, extrovertidos e possessivos. Uma pessoa filha de Iansã é impulsiva, confiável e explosiva.

Iemanjá: acima à direita. A deusa do mar. Sincretizada com Nossa Senhora da Conceição. Os filhos de Iemanjá são protetores, sérios, e possuem um forte sentido de hierarquia. São muito respeitados. São voluntariosos, fortes, rigorosos, protetores, altivos e, algumas vezes, impetuosos e arrogantes. Uma filha de Iemanjá é solidária, generosa e decidida.

Exu: no centro do vitral. Uma das suas funções no Candomblé é de servir de mensageiro entre os homens e os outros orixás. Foi sincretizado com o Diabo  porque é manhoso e especialista em provocar brigas e problemas onde quer que apareça. Os filhos de Exu são enérgicos, alegres, brincalhões, atraentes e carismáticos. Um filho ou filha de Exu é briguento e barraqueiro.

Xangô: localizado no lado esquerdo acima do vitral. Deus do raio e dos trovões, sincretizado com São Jerônimo. Viril e conquistador, ele roubou a sensual orixá Iansã de seu marido Ogum. Seus filhos são voluntariosos, altivos, egoístas e obstinados. A filha de Xangô é calma, sonhadora, crédula e honesta

Pastéis de Belém – Pessoa – Pedro Álvares Cabral – Pico – Painéis de São Vicente

Nos cantos superiores do vitral, visualizam-se os famosos Pastéis de Belém, acompanhados por uma “bica” (café espresso). Criados em Belém, Lisboa, numa tentativa de salvar o Mosteiro dos Jerónimos, dos efeitos da Revolução Liberal de 1829, que provocou o encerramento dos conventos de Portugal em 1834. Aproveitando que o Mosteiro, pela sua imponência, atraía visitantes, colocaram ditos pastéis à venda.. A fabricação massiva dos pastéis deu-se em 1837, segundo a receita “secreta” vinda do Mosteiro, que permanece inalterável até hoje e graças à qual se tornaram num dos produtos mais importantes da antiga pastelaria conventual portuguesa.

Localizado ao centro do vitral, do lado esquerdo, o busto de um dos mais brilhantes escritores portugueses: Fernando Pessoa, nascido em 1888 em Lisboa. Destacou-se pela escrita de poesia a partir de diversos autores fictícios. “heterónimos” com diferentes estilos, personalidades, identidades refletidas nas suas manifestações artísticas. A partir destas personagens Fernando Pessoa, escreveu e publicou diversos textos, entre crítica, ficção e sobretudo poesia em revistas, contribuindo de uma forma enigmática e invulgar à literatura universal. A sua extensa obra só começou a publicar-se após a sua morte precoce, com 47 anos, e ainda hoje não é inteiramente conhecida, inclusive pelos especialistas na sua obra.

À direita de Pessoa, o busto do Pedro Álvares Cabral: um dos maiores navegantes portugueses. Responsável pela segunda expedição portuguesa às Índias para a consolidação das relações comerciais e diplomáticas. Nessa viagem, Cabral tentou contornar o Cabo da Boa Esperança, mas realizou o famoso desvio para sudoeste, atingindo a costa brasileira em 22 de abril de 1500, evento conhecido como a “Descoberta” do Brasil. Tendo tomado posse da nova terra descoberta, Cabral deu-lhe o nome de “Terra da Santa Cruz”.

A paisagem por trás destas duas personagens icónicas, representa o “Pico”, a montanha mais alta de Portugal, com 2.351 m de altitude, localizada na Ilha do Pico, nos Açores.

Finalmente, encontram-se na base do vitral, os Painéis de São Vicente: Seis pinturas de óleo sobre madeira, atribuídas a Nuno Gonçalves, que agrupam personagens em torno da dupla figuração de São Vicente. Representa-se neles, de maneira expressiva e requintada, toda a sociedade portuguesa, desde a Corte, a nobreza, o clero e até o povo, em ato de veneração ao patrono e inspirador da expansão militar quatrocentista no Magrebe.

Quilombos – Quindim

Na época da colonização da América, o Brasil recebeu quase a metade de escravos, mulheres e homens que foram trazidos de África para o continente como mão de obra para trabalhar nas diferentes atividades económicas desenvolvidas, em terríveis condições de vida.  Quando conseguiam sobreviver à viagem de navio em condições inumanas ainda lhes esperavam os trabalhos excessivos, com péssima alimentação, morar em habitações húmidas e frias, além de que muitas vezes eram acorrentados e azotados. Com o comércio constante de escravos não havia preocupação por manter seu bem-estar, já que podiam ser facilmente substituídos, tornando a sua esperança média de vida muito baixa. Sua religião foi proibida de ser praticada e foram obrigados a adotar o catolicismo e a língua portuguesa.

Mesmo assim, através de várias formas de resistência, conseguiram preservar partes da sua cultura, como a religião que se foi sincretizando com o catolicismo.  As revoltas eram muito comuns, permitindo a fuga de alguns escravos organizados para  floresta e a construção os chamados Quilombos, onde viviam em liberdade de forma muito parecida à que tinham em África. A intenção neste vitral é representar os quilombos através da imagem de uma pessoa africana, lembrando que ainda hoje, eles são um povo que luta pelos seus direitos e liberdades.

Acompanhando a figura do homem africano, encontramos uma saborosa sobremesa brasileira, é o Quindim, feito de coco ralado, açúcar e gema de ovo. A receita brasileira pertence ao nordeste, mas na origem portuguesa é conhecida como brisa-do-Lis

Revolução dos Cravos

O vitral da letra R representa a Revolução dos Cravos, um movimento de insurreição militar em Portugal, seguido de um levantamento popular que derrubou uma ditadura de mais de 40 anos, desde 1926 até 1974. Trata-se de um dos mais importantes acontecimentos históricos do Portugal do séc. XX.

A Revolução aconteceu a 25 de abril de 1974, nas ruas de Lisboa, quando capitães e oficiais se levantaram contra o presidente Marcelo Caetano, quem substituiria António Salazar quando este último adoeceu e faleceu em 1970, para continuar o regime salazarista, caracterizado pelo autoritarismo, censura, repressão, exílios e guerras coloniais. Caetano rendeu-se imediatamente, e em consequência, iniciou-se uma reforma estrutural, política e social que levaria ao país ao progresso, e marcaria também o fim da guerra colonial e o reconhecimento da independência das colônias portuguesas na África.

A Revolução dos Cravos ficou na história mundial pela ausência quase absoluta de violência. Houve apenas quatro mortes, provocadas pela polícia política do regime. A revolução começou ao sinal  “Grândola Vila Morena” canção de Zeca Afonso, que antes era proibida, e que se tornou no hino da revolução.

Conta-se que comemorando a vitória, uma florista começou a oferecer cravos aos soldados, colocando-as nos canos das espingardas que eles portavam. Os cidadãos que saíram às ruas também pegaram cravos, fazendo desta flor o símbolo e nome da revolução.

O 25 de abril é feriado em Portugal e é conhecido como o “Dia da Liberdade”.

A imagem do vitral alude especificamente a uma famosa fotografia de alguns soldados já com cravos nas espingardas, na qual em primeiro plano aparece Salgueiro Maia, um dos mais importantes líderes das forças militares durante a Revolução.

Samba – Saci-pererê – Senna

A mulher com máscara na esquina esquerda do vitral representa o Samba, um dos ritmos mais conhecido no mundo. Nascido nas comunidades afro-brasileiras do Rio de Janeiro tem sua expressão cultural da África Ocidental e nas tradições folclóricas brasileiras. Um dos ritmos mais escutados no Brasil e oriundos do samba é o pagode, que está intimamente relacionado com representações contemporâneas de gênero e classe social da população negra.

O Saci-pererê é um personagem do folclore brasileiro e muito conhecido pelas suas travessuras com animais e seres humanos, sendo assim, um dos seres lendários no imaginário popular da nação brasileira. Segundo a descrição da lenda, o Saci possui apenas uma perna, com a qual pode mover-se rapidamente, além de não ter nada de pelo corporal, usar um gorro vermelho e ter o hábito de fumar no seu cachimbo. Podemos encontrá-lo na esquina direita do vitral.

Outra figura muito lembrada e  também lendária, porém, pelas vias de asfalto pelo mundo, é o piloto de Fórmula 1, Ayrton Senna, que se encontra no centro do vitral. Ele foi campeão da categoria por três vezes e um dos importantes títulos que alcançou foi do Campeonato Britânico de Fórmula 3 no ano de 1983, que foi um dos motivos que impulsionou sua ascensão na Fórmula 1.

Tejo – Torre de Belém – Turma da Mônica

Na metade superior do vitral, o rio Tejo, rio mais extenso da península ibérica, que nasce na Espanha e desagua no Oceano Atlântico após um percurso de aproximadamente 1007 kms. Do Tejo partiram as naus e caravelas da expansão marítima portuguesa. Atravessam-no em Lisboa, duas pontes: A Ponte 25 de abril e a Ponte Vasco da Gama. Acompanhando o rio, visualiza-se a Torre de Belém: antiga construção militar, localizada em Belém, na cidade de Lisboa, obra de Francisco de Arruda e Diogo de Boitaca. Teve uma grande importância na época da expansão marítima da Europa, funcionando como porto donde partiam os exploradores portugueses para estabelecer o primeiro contato comercial europeu na história, com a Índia e a China. A torre, que data do século XVI, funcionou também como fortaleza contra invasores, farol, centro coletor de impostos e inclusivamente prisão. Conta com cinco andares e no seu interior destacam-se algumas esculturas de São Vicente Mártir (padroeiro de Lisboa).   

Na metade inferior do vitral, vemos as personagens da Turma da Mônica, uma série popular de quadrinhos brasileiros criada pelo desenhista Maurício de Sousa. Conta as aventuras de um grupo de crianças do estado de São Paulo. Maurício de Sousa era jornalista policial até que fez seus primeiros personagens, em 1959. Baseados nas vivências da sua própria infância, tornaram-se populares e queridos pelo povo brasileiro e, paulatinamente, pelo resto do mundo. 

Ultramar – Uvas

A palavra Ultramar foi empregada primeiramente nas viagens das Cruzadas na Idade Média, para indicar que se passava do outro lado do mar mediterrâneo, mas depois foi utilizada também nas colônias europeias fora do continente. O povo português caracterizou-se pelas viagens e explorações marítimas dos séculos XV e XVI, que começam com a conquista de Ceuta em África e que foram impulsionadas pela ideia da expansão e de criar novas rotas de comércio no mediterrâneo. Desta maneira, os portugueses iniciaram a chamada “era da expansão marítima europeia”, que trouxe das mãos dos portugueses novas linhas no mapa do mundo, novos avanços em tecnologia marítima e cartografia, e resultaram também na conquista de outras terras que são, atualmente, países lusofalantes.

Vale a pena, também, incluir mais uma palavra neste vitral. Representadas pela cor roxa, as Uvas, são utilizadas na elaboração de vinho e Portugal tem uma grande tradição e prestígio por ter dos melhores vinhos do mundo. O vinho do Porto, de Madeira e o vinho Verde são os mais famosos, contando com mais de 250 espécies de uvas nativas.

Vasco da Gama – Vinho, videira, vinho do Porto – Vinícius de Moraes – Viriato

Este vitral mostra palavras e personagens, referentes culturais ligados à história, à literatura, à música e à exploração. Desta maneira, iniciamos com o navegador português Vasco da Gama (no centro à direita), que nasceu em Sines –cidade portuguesa da região do Alentejo– provavelmente em 1469. Foi comandante da grande expedição que partiu de Lisboa e abriu o novo caminho marítimo para a Índia, passando por Cabo Verde, desviando muito para ocidente antes de chegar à Baía de Santa Helena e ao Cabo da Boa Esperança na África do Sul (porque as viagens anteriores já haviam identificado a melhor rota livre de correntes e ventos que dificultavam o avanço), e parando em Moçambique antes de fazer o percurso final para a Índia. Esta empresa acontece num contexto histórico em que o intercâmbio comercial com estas terras era muito importante para os europeus –não só pelas especiarias, mas também pelos tecidos e pedras preciosas–  e em que as vias de acesso para a Índia eram cada vez mais restritas, devido à crescente presença de piratas árabes no Mediterrâneo, à insegurança dos caminhos através do Egito e à hostilidade marcada contra os cristãos por parte de turcos-muçulmanos, na Ásia Menor. A expedição de Vasco da Gama fez com que o Reino de Portugal consolidasse a sua liderança comercial no mundo ocidental e contribuísse com a prosperidade económica de toda a Europa numa época de descobrimentos e mudanças sociais.

 

A seguir, as palavras Vinho / Vide / Videira (canto superior esquerdo) estão intimamente ligadas à forte tradição vitivinícola de Portugal, com vinhos reconhecidos em todo o mundo. Qualquer pessoa que visita Portugal, não pode fugir ao charme dos seus vinhos. Conhecê-los pode representar também um excelente pretexto para visitar as regiões produtoras, descobrindo paisagens, património, cultura e pessoas. Portugal produz todo o tipo de vinhos, tintos e brancos, de uvas diversas e denominações de origem. As principais regiões produtoras de vinho são o Douro e o Alentejo, onde se podem encontrar unidades de produção vinícola que recebem visitantes para conhecer as vinhas, as adegas e provar os vinhos. É na região do Alto Douro Vinhateiro, criada em 1756, que se produz o famoso “vinho do Porto”. O vinho do Porto caracteriza-se pelo seu sabor doce e perfumado que bem lhe merece o lugar de aperitivo ou digestivo. A soberba paisagem do vale do Douro, onde se plantam as vinhas nas encostas duma região de solos agrestes, deu lugar a uma paisagem classificada pela UNESCO como Património Mundial, coberta de quintas tradicionalmente ligadas ao vinho. Na cidade do Porto é onde ficam as Caves do Vinho do Porto, à beira-rio. Outro tipo de vinho que se produz em Portugal é o “vinho verde”, que realmente é uma Denominação de Origem Controlada, ou seja, é uma região vitivinícola demarcada, na província do Minho, no noroeste de Portugal, e que recebe esse nome porque as uvas da região, mesmo quando maduras, têm elevado teor de acidez, produzindo líquidos cujas características lhes dão a aparência de vir de uvas colhidas antes da correta maturação.

 

Voltando a referir personagens históricos, podemos observar Viriato (no centro à esquerda), que é um referente indiscutível da cultura lusitana. Nas raízes culturais do povo português, muito tempo antes da configuração de Portugal como nação, no século II a.C., a faixa da Península Ibérica que mais tarde veio a ser Portugal era habitada por povos de origem ibérica e celta: a norte do rio Douro, os Calaicos; ao centro, os Lusitanos; a sul, os Cónios. Estes povos viviam principalmente no alto dos montes em povoações rodeadas de muralhas, os castros. Naquela altura, o Império Romano estava já em aberta expansão territorial, o que derivou em constantes invasões e tentativas de conquista. É neste contexto que Viriato aparece na cena, posicionando-se como líder lusitano que enfrenta a expansão de Roma na Lusitânia, nas chamadas guerras lusitanas. Ninguém sabe ao certo quando nasceu nem a que família pertencia, mas sim que teria sido pastor na sua juventude nos Montes Hermínios (Serra da Estrela) e que já teria participado em assaltos-relâmpago às povoações dominadas pelos romanos, demonstrando a sua agilidade, força, inteligência e coragem. A História conta que o povo lusitano foi alvo dum ataque traiçoeiro dos romanos, quando estavam em negociações de paz. Depois do massacre, os romanos atacaram novamente com o seu grande exército. Muitos guerreiros lusitanos estavam já a pensar na rendição. Viriato teimou, como chefe e líder lusitano que era, esboçando uma ágil resposta que conseguiu vencer o grande exército romano. O campo de batalha ficou juncado de mortos, o próprio general romano perdeu a vida. Neste confronto, Viriato, mais do que vencer os Romanos, salvou os Lusitanos. A partir daí, Viriato foi reconhecido e amado como chefe máximo por todas as tribos, ficando nas memórias da História como o primeiro herói português.

 

Um pouco da sensualidade da música Bossa Nova e de poesia para finalizar: Vinicius de Moraes (canto inferior à esquerda) foi um poeta, dramaturgo, jornalista, diplomata, cantor e compositor brasileiro, que nasceu em 1913 e morreu em 1980, no Rio de Janeiro. Vinicius foi essencialmente um poeta lírico, destacado pelos seus sonetos. Era boêmio, fumador, apreciador do uísque e diz-se que era também conhecido por ser um grande conquistador, casando nove vezes ao longo de sua vida. A sua obra é vasta, desenvolvendo-se como poeta e escritor vário, dramaturgo, compositor e até diplomata. A poesia foi sempre a sua maior vocação. No campo musical, Vinicius de Moraes teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque e Carlos Lyra, participando desta maneira no rebentar da Bossa Nova.

Xará – Xi-coração – Xodó

O vitral da letra X é uma homenagem a três das palavras ou expressões consideradas das mais bonitas da língua portuguesa, ora por seu significado ora por serem usadas em contextos carinhosos: “Xará”: um substantivo usado sempre que quisermos referir uma pessoa que tem o mesmo nome que outra, sendo sinônimo de homônimo, “tocaio”, “xarapa” e “xarapim”. “Xi-coração”: expressão muito portuguesa, em linguagem familiar, carinhosa que significa abraço, geralmente muito apertado. “Xodó”: Forma meiga de designar alguém ou algo a quem se tem muito carinho, usado tanto em feminino como em masculino. No vitral pode-se observar a letra “xis” e nos extremos da mesma, pessoas normais a saudar ou despedir de outras afetuosamente.

Zé Povinho

O Zé Povinho é uma caricatura muito famosa em Portugal que nasceu em 1875 pela mão do caricaturista Rafael Bordalo Pinheiro, e que teve o objetivo de satirizar o povo e o poder político. A figura do personagem é de um homem camponês humilde, com uma vestimenta pobre e com uma compreensão limitada, analfabeto, grosseiro e enganado por todos, que mesmo assim conserva o sorriso no rosto. Nessa altura do século XIX, foi apresentado no jornal humorístico “A Lanterna Mágica”, fazendo sátira à situação económica do país acompanhado do Santo António.

Zé Povinho tem muitos significados no imaginário social, seu nome personifica a todos os portugueses, e seu apelido tem a ver com o povo, a nação, com a marca do diminutivo em português “inho” que expressa carinho e familiaridade. Mas tudo isso, somado com a sátira, cria um Zé que pode ser qualquer um, aquele que é vítima  de alguma forma de  poder institucional.

Galería 3D

0 comentarios

Enviar un comentario

Tu dirección de correo electrónico no será publicada. Los campos obligatorios están marcados con *

error: Contenido protegido